O pernambucano Nelson em seu habitat, as ruas do Rio de Janeiro, nos anos 70, e contracenando com a atriz Léa Garcia na peça Perdoa-me por Me Traíres, de sua autoria: um autor fiel apenas à própria imaginação e sem grande apreço pela fronteira que separa o real do inventado – Amiccuci Gallo
O dramaturgo Nelson Rodrigues inventou o teatro brasileiro em 1943, com a peça Vestido de Noiva. O romancista, com o pseudônimo Suzana Flag ou sem camuflagens, devassou e simultaneamente seduziu o universo habitado por aquela que muitos anos depois seria batizada de “nova classe média”. O cronista do Brasil real – enquanto colecionava achados metafóricos que o transformariam num frasista incomparável e concebia imagens magnificamente exatas – pariu criaturas que, conjugadas, mostram não o que os nativos da terra gostariam de ser, mas o que efetivamente são. O torcedor apaixonado do Fluminense descobriu que “a mais sórdida pelada é de uma complexidade shakespeariana” e foi o primeiro a coroar Pelé. Ele foi e fez tudo isso – e muito mais – em apenas 68 anos de vida. É compreensível que o dia da morte física de Nelson Rodrigues tenha sido também o primeiro dia do resto de sua eternidade.(Veja)